A ferrugem asiática da soja é a doença mais severa que atinge a leguminosa e a que demanda maior investimento dos produtores. A moléstia é favorecida por chuvas e longos períodos de umidade, podendo ocasionar perdas de 10% a 90% na lavoura. Por isso, no Brasil, 13 estados e o Distrito Federal adotaram o chamado vazio sanitário, que proíbe o cultivo da soja durante um período de três meses. No Mato Grosso do Sul, o vazio teve início em 15 de junho e se estende até 15 de setembro.
O objetivo desse período é reduzir a quantidade de esporos da ferrugem durante a entressafra, diminuindo a possibilidade de incidência da doença, além de reduzir o número de aplicações de fungicidas e, consequentemente, o custo de produção. O período de 90 dias foi estabelecido através de portarias, leis ou instruções normativas, considerando que o tempo máximo de sobrevivência dos esporos no ar é de 55 dias.
No período do vazio é fundamental que não existam plantas de soja na lavoura, conforme recomendam o Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea-MT) e Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), de Mato Grosso do Sul.
“O vazio é uma medida fitossanitária para manter o inóculo da principal praga da soja que é a ferrugem asiática, e pra isso é importante que não tenham plantas de soja vivendo no campo nesse período. Isso é importante para não infectar a safra seguinte, no caso a safra 19/20, que será plantada a partir de setembro”, explica o chefe da divisão de defesa sanitária vegetal da Iagro, Filipe Petelinkar Portocarrero.
Os cuidados que o produtor precisa ter
Filipe explica que o produtor não pode deixar plantas de soja no campo durante esse período. “É preciso ter cuidado para que as sementes que caíram eventualmente no solo não germinem, fazer o controle químico ou mecânico dessas plantas. Geralmente é feito controle químico porque aí já se faz o controle de outras ervas daninhas, como a buva”, completa.
O descumprimento das normas do vazio, de acordo com a Lei nº 3.333 de 2006 do Estado do Mato Grosso do Sul, pode implicar em autuação da Iagro, resultando em multa de até mil UFRMS, que é a Unidade Fiscal Estadual de Referência de MS. No Mato Grosso, a multa para quem descumprir o período é de 30 Unidade Padrão Fiscal (UPF-MT), mais 2 UPFs por hectare de planta não eliminada.
Em Mato Grosso do Sul, a lei 5025/2017 estipula calendário de plantio para a soja, determinando o período em que o grão pode ser plantado: de quando acaba o vazio sanitário, ou seja, de 15 de setembro, até 31 de dezembro.
“A partir de 1 de janeiro nós já vamos fiscalizar se tem alguém plantando, porque foi comprovado por pesquisa que lavouras mais tardias plantadas em janeiro têm mais incidência de ferrugem asiática, e trazem problemas para quem produz, como maiores gastos com fungicidas. E, com muitas aplicações, a tendência é que esses fungicidas percam a eficiência, porque o fungo está sofrendo mutações e logo não teremos mais fungicidas para combater”, explica o representante da Iagro.
A importância da calendarização é reforçada pelo engenheiro agrônomo da Sementes Jotabasso, Edmar Dantas. “A calendarização é o período que determina a semeadura da soja. É importante para reduzir o número de aplicações de fungicidas ao longo da safra e com isso reduzir a pressão de resistência do fungo aos fungicidas. Quanto mais tarde é essa semeadura, maior é a pressão de inóculo do fungo e mais difícil se torna o controle”, destaca Dantas.
Controle mais que necessário
A Jotabasso leva a sério as recomendações do vazio sanitário e calendarização, entendendo que são medidas válidas, como o apoio aos órgãos fiscalizadores como a Iagro e o Indea. “E nos empenhamos para que essas medidas sejam levadas a sério”, afirma o agrônomo.
Dantas ainda explica que, depois da soja, é utilizada rotação de cultura e plantio de milho safrinha na Jotabasso. Além disso, são usados herbicidas que controlam as plantas de soja que por ventura nascem no meio do milho. “Utilizamos também como rotação a aveia branca e sorgo com braquiária, também com controle de plantas daninhas de folha larga e, consequentemente também a soja voluntária. O nosso controle é efetuado de forma basante rígida, utilizando como estratégia de controle, o manejo com culturas que permitam utilizar herbicidas que controlem a soja no meio das demais plantações”, acrescenta o agrônomo.
Por mais que mantenha áreas irrigadas que permitiriam a semeadura antes do prazo, a Jotabasso segue a calendarização, iniciando o plantio após o vazio sanitário. “É um escalonamento de semeadura que vai até meados de novembro, ou seja, semeamos dentro de período da calendarização. Isso para preservar as moléculas de fungicidas, porque quando você semeia fora dessa janela, há uma pressão muito grande da ferrugem, e muitos fungicidas estavam tendo problema de controle devido a menor sensibilidade dos fungos aos fungicidas. Esse calendário veio para que o produtor semeie na época recomendada de melhor probabilidade de obter chuvas e bons resultados na colheita”, finaliza Dantas.