Profissionalização dos processos colocam os azeites de oliva produzidos no RS e na Serra da Mantiqueira entre os melhores do mundo
Apesar de recente, o mercado brasileiro de azeites de oliva é promissor e vem crescendo ano após ano. Existe uma grande variedade de produtos que vão dos mais simples aos mais sofisticados, mas os fabricantes estão cada vez mais aprimorando a arte de elaborar esse alimento milenar. Em 2019, os rótulos de azeites extravirgem nacionais venceram premiações internacionais disputando com óleos de países tradicionais como Portugal e Espanha.
E para a safra 2020, a iguaria dourada deve chegar com a mesma qualidade, avalia o especialista em azeites, Sandro Marques, estudioso do assunto que foi além da teoria e degustou mais de 70 rótulos de azeite de oliva produzidos no Brasil para escrever o Guia de Azeites do Brasil, a ser lançado em agosto. A confirmação dessa qualidade já surgiu também nas primeiras premiações deste ano, com duas medalhas de prata e uma de ouro obtidas no NYIOCC (Concurso Internacional de Azeite de Nova York) por azeites gaúchos no mês de maio. “Percebo que temos avanços em relação aos anos anteriores e aprendizados a serem processados. Há muitos produtores que dominaram a extração, ou souberam se valer de profissionais que sabem fazer isso, e mantiveram um padrão internacional do seu azeite, que deve se refletir nas premiações”. No entanto, o especialista, que é o único jurado brasileiro da NYIOOC, pondera: “Também observei que existem alguns produtores que têm obstáculos para superar na extração do seu azeite. Há azeites que não expressam o máximo potencial da azeitona e há também alguns com defeitos e evidentes, que podem ser corrigidos com maior cuidado no processo”.
A qualidade de um bom azeite não é determinada somente pela azeitona. Um detalhe importante é o cuidado na hora da colheita e o processo de fabricação do azeite. A olivicultura no Brasil, apesar de ter uma produção de qualidade reconhecida internacionalmente, ainda enfrenta alguns obstáculos. "A olivicultura no Brasil é uma corrida de obstáculos. Tem que conhecer bem a sua terra, tem que escolher as variedades corretas. Aprender ano a ano como fazer o controle fitossanitário e como aumentar a produtividade e conviver com a instabilidade do clima”, explica Marques.
Clima: o vilão da produtividade
A safra 2020 de azeitonas no Brasil deve apresentar uma queda significativa na produção, em relação ao volume recorde atingido no ano passado de 1,4 milhão de toneladas, enquanto a produção de azeite foi de 240 toneladas, conforme dados do Instituto Brasileiro da Olivicultura (Ibraoliva). Neste ano, o clima foi o grande vilão. No Rio Grande do Sul, principal estado produtor da azeitona do país, a previsão para a produção de azeitonas é de quase 60% a menos em relação à safra de 2019, quando o estado produziu cerca de 189 toneladas de azeitona.
Por outro lado, na região Sudeste houve uma melhora no volume de produção com relação ao ano passado. Na Serra da Mantiqueira, entre Minas Gerais e São Paulo, a expectativa dos produtores é de uma safra promissora, apesar do clima também não ter sido o mais propício. A região já conta com cerca de três mil hectares de oliveiras plantados, 23 agroindústrias incubadas e mais de 60 marcas de azeite gourmet inseridas no mercado.
O publicitário e produtor no ramo da olivicultura João Roberto Vieira da Costa, o Bob, concentra sua produção em uma fazenda em Santo Antônio do Pinhal, na Serra da Mantiqueira, desde 2014. “Na Mantiqueira a safra foi boa, porém não foi exatamente dentro da expectativa que tínhamos. Ela foi abaixo das expectativas, mas foi regular. Imagino que o problema da safra de 2020 foi justamente o pouco frio para as oliveiras ao longo de 2019. Este frio não esteve tão intenso como costuma ser”, explica o produtor
Mais recentemente, em 2017, Bob também decidiu investir em pomares nos campos do Rio Grande do Sul, no município de Encruzilhada do Sul. Lá ele conta com 440 hectares, onde 100 deles já estão cobertos por oliveiras. Conforme Bob, alguns contratempos ainda são enfrentados devido ao fato de a olivicultura ser uma atividade nova no Brasil. “Não temos um conhecimento acumulado para esses diversos enfrentamentos do dia a dia, nosso histórico ainda não permite que tenhamos a receita adequada para todos os problemas da olivicultura. Por isso é importante que se tenha estudos, experiências e convênios com universidades para encontrar mecanismos para amenizar os problemas. Olivicultura não é um hobby, precisa ser uma cultura sustentável”, destaca João Roberto.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), o mercado de azeite nacional deve continuar aquecido, pois mesmo com uma safra menor, essa diminuição não afetou a qualidade do produto. “A safra 2020 foi menor em função de problemas climáticos na época da polinização, mas essa diminuição da quantidade não afetou a qualidade do azeite. Isso, somado aos benefícios do azeite para a saúde mantém o mercado em movimento”, destaca Paulo Marchioretto, presidente do Ibraoliva.
É justamente na qualidade diferenciada do produto nacional, que os especialistas confiam na manutenção e até mesmo no aumento do consumo. Segundo o Ibraoliva, a tendência é de um aumento na produção de azeites no próximo ano, com novas áreas que vão entrar em produção em 2021, além de várias novas áreas em implantação.
Até o final de 2020, o Brasil deve atingir uma área em torno de 13 mil hectares plantados. Antes da pandemia essa taxa apresentava crescimento de até 20% ao ano. “Agora, supomos que essa taxa vai variar e ficará em torno de 10 a 15%. Mas assim que passar essa fase os investimentos devem voltar representar de 20 a 25% de crescimento”, explica o presidente do Ibraoliva.
Apesar da crise, o setor de alimentação, ao qual pertence o azeite, não parou totalmente. “Nesse período de Covid-19, por mais incrível que pareça, se eu tivesse três vezes mais azeite eu teria vendido todo ele, desde as lojas que fazem pedidos para vender pelo delivery, as compras feitas pelo site, enfim, a pandemia já mudou e vai mudar muita coisa no comércio do mundo todo, exigindo adaptações, como o e-comerce, que vem crescendo muito”, finaliza Bob.
Texto: AgroUrbano Comunicação
Foto: Luciane Gomes / Azeites & Olivais
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