Apesar da colheita das azeitonas ainda não ter sido finalizada, expectativa é que a produção nacional alcance bons resultados nos dois maiores polos produtores
Um novo e fresco azeite extravirgem começa a brotar dos olivais brasileiros com o avanço da colheita de azeitonas em todo o país. Mesmo com algumas condições climáticas adversas, os trabalhos de colheita e produção de azeite já estão a todo vapor, especialmente na região Sudeste e nos estados do Sul, dois dos maiores polos produtores do fruto.
Os trabalhos devem prosseguir até o final do mês de março e os produtores, prudentes, acham que ainda é cedo para arriscar o total de toneladas que serão colhidas ou quantos litros de azeite conseguirão engarrafar. Mas é impossível negar um clima de confiança no setor.
Nas montanhas da Serra da Mantiqueira, os pomares localizados em menores altitudes estão com a safra praticamente finalizada. O trabalho passa, então, a ser concentrado nas propriedades mais altas e frias, onde o amadurecimento dos frutos é mais tardio. Cerca de 1,5 milhão de oliveiras estão distribuídas em uma área entre 2,5 e 3 mil hectares. Aproximadamente 60% dos olivais estão em solo mineiro, enquanto os outros 40% se distribuem entre São Paulo e Rio de Janeiro. A região foi pioneira no cultivo de oliveiras no país, com a primeira extração de azeite realizada em 2009.
Olivicultor desde 2014, em Santo Antônio do Pinhal (SP), Bob Costa, produtor do Azeite Sabiá da Mantiqueira, acredita que o conhecimento está tornando possível vencer o desafio da colheita e pode tornar a safra 2022 uma das maiores na região. Isso porque o alto volume de chuvas e a grande carga de frutos nas oliveiras, tornaram a operação ‘complexa e improgramável’, como define. Otimista, Costa afirma que “a grande maioria dos olivicultores está conseguindo equilibrar uma equação, que envolve o ponto de maturação apropriado, a colheita escalonada e a extração, assegurando uma alta produtividade e excelentes azeites extravirgem. Os obstáculos estão aí para serem vencidos”, ressalta.
A surpreendente produção na Serra Vulcânica - A pouco mais de 100 quilômetros da Mantiqueira, a grande quantidade de azeitonas também surpreendeu os produtores da chamada Serra Vulcânica, região que compreende 11 municípios de Minas Gerais, entre eles Poços de Caldas, e de São Paulo, como São Sebastião da Grama, onde está localizada a Fazenda Irarema, do produtor e azeitólogo Moacir Carvalho Dias. Ele afirma que as terras, pouco férteis para culturas como a soja, são excelentes para a olivicultura e os resultados, este ano, são de recordes de produção. “Todas as árvores estão rendendo acima de 10 quilos, algumas chegam a 70, e até 100 quilos. Temos produtor que colhe 40 árvores por dia, chegando a 60 caixas de 20kg/dia. Mesmo com o rendimento do fruto abaixo dos 12% ou 13% esperados, por causa do excesso de umidade, estamos todos muito felizes”, comemora Dias.
O engenheiro agrônomo Luiz Fernando de Oliveira explica que o rendimento de azeite é menor porque, em ambientes muito úmidos, o fruto absorve a água. “A azeitona incha, fica maior e mais bonita, mas ela tem mais água do que azeite”, pondera o coordenador do Programa Estadual de Pesquisa em Olivicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), um profundo conhecedor da realidade do cultivo em todo o Sudeste. Segundo Oliveira, apesar do rendimento menor de azeite, a atual safra foi beneficiada pelo inverno intenso de 2021 e os pomares ficaram carregados. “Além disso, há novas plantas em idade produtiva”, lembra o especialista, que arrisca resultados excelentes para a atual safra, em toda a região. “Devemos passar os 50 mil litros de azeite do ano passado e os 80 mil litros do recorde de 2018. A expectativa é atingir a casa dos 100 mil pela, pela primeira vez. A cada ano, a olivicultura tem que ser igual ou maior, não pode regredir”, projeta. no Sudeste, os olivais estão localizados em pequenas propriedades e, devido à topografia, a mecanização ainda é considerada pequena.
A primeira extração capixaba - Movimentação, também, nos outros estados produtores, mesmo os que ainda têm com pouca tradição em olivicultura, como Bahia, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná. No Espírito Santo, a primeira extração de azeite de oliva, realizada no dia 9 de fevereiro, tem significado especial para os cerca de 150 produtores de oliveiras do estado. “É um marco histórico porque, no ano passado, os frutos colhidos precisaram ser levados até Minas Gerais para serem processados e envasados. Realizar esse processo aqui é um grande avanço para o setor”, avalia o engenheiro agrônomo Fabrício Rezende Salomão, especialista no assunto. O Azeite obtido, da marca Aracê, é oriundo das azeitonas da Fazenda Vale das Oliveiras, no município de Domingos Martins. O cultivo de oliveiras em solo capixaba iniciou há seis anos, o que é considerado recente. A expectativa de colheita, para a safra 2022, é de três toneladas de azeitonas, nos cerca de 550 hectares cultivados.
O maior produtor pode repetir 2021 - A colheita está iniciando agora para os cerca de 200 produtores do Rio Grande do Sul, maior produtor do país, com quase sete mil hectares plantados e que concentra cerca de 75% da produção nacional de azeites de oliva extravirgem. A estiagem, que afeta o estado, tem reflexos nos olivais. “Tivemos má distribuição de chuva, isso afetou os pomares de forma desigual. Áreas mais próximas ao litoral, como Barra do Ribeiro e Sentinela do Sul, tiveram poucos problemas com a falta de água. A nossa área, na região Sul, é intermediária e foi atingida em partes. Já mais para o interior, como Santana do Livramento, está bem preocupante. Poderia ter sido pior, mas também poderia ser melhor”, detalha Alcyr Cardoso, diretor técnico do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), e produtor, em Piratini, do azeite Olivae.
Apesar do mau tempo no campo, Cardoso espera que a produção gaúcha da safra 2022 se iguale à do ano passado, que ficou em 202 mil litros de azeite. A colheita deve ser beneficiada pelas novas áreas que estão entrando em produção, assim como ocorre na Mantiqueira. “Será uma safra boa, devemos ter aumento no volume final em relação a 2021, mas não é uma super safra. Geralmente se planta aos poucos, por etapas, à medida que as árvores vão ficando mais velhas, têm copas maiores e a tendência é ter mais produção. A olivicultura é um cultivo em constante expansão e ainda vai crescer muito”, prevê.
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Texto: AgroUrbano Comunicação
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